quarta-feira, 20 de maio de 2015

Investimentos chineses no Brasil

"O lavrador perspicaz
conhece o caminho do arado."
Homenagem a Oscar Barbosa Souto,
antigo lavrador.
In Memoriam.



VER TAMBÉM
Os chineses e o covonavírus
[Matéria divulgada pelo jornal Estadão no Fórum de Leitores de seu portal eletrônico, em 22/Mai/2015]


No que concerne ao investimentos chineses no Brasil, alardeados com grande estardalhaço pelo governo brasileiro, como a grande notícia econômica para se contrapor às crises social, política e econômica da atualidade, convém revisitar o perfil comportamental e estratégico dos chineses e indagar com que possibilidades de êxito ou insucesso os brasileiros estão se defrontando.
Na década de 1930 — como ocorre ainda hoje —, os chineses enviavam estudantes e engenheiros para estudar nos Estados Unidos. Qian Xuesen foi um desses estudantes. Ele fez mestrado e doutorado em universidades americanas, permaneceu trabalhando nos Estados Unidos e, em 1943, propôs a criação do instituto que depois passou a chamado de  Laboratório de Jato Propulsão, o primeiro do mundo nessa área científica. Em 1945, ele foi comissionado coronel do Exército americano, com a missão de integrar a equipe de cientistas que interrogariam os  cientistas alemães, presos ao final da Segunda Guerra Mundial. Durante a guerra da Coreia, Xuesen passou a ser considerado um risco para a segurança americana e colocado sob prisão domiciliar. Em 1955, depois do final daquela guerra,  Xuesen foi deportado no âmbito da troca de prisioneiros entre Estados Unidos e China. Ele voltou para seu país natal e se tornou o pai do projeto espacial chinês e do projeto de mísseis intercontinentais que hoje estão apontados para os Estados Unidos.
Em 1949, após a vitória da revolução chinesa, Mao Tse Tung foi a Moscou buscar apoio soviético. Stalin deixou o líder chinês esperando durante quase uma semana, para então recebê-lo, curiosamente, um pouco depois de meia noite. Desse encontro, resultaram acordos de cooperação de cunho estratégico, notadamente, nos campos educacionais, científico-tecnológico e militar. Mao atribuiu relevância ao possível apoio para o desenvolvimento nuclear, especialmente, em razão do lançamento, em 1945, das bombas atômicas americanas em Hiroshima e Nagasaki e a subsequente implantação pelos soviéticos de um complexo nuclear semelhante ao americano de Los Alamos, nas imediações dos montes Urais (que levou à explosão, em 1949, do primeiro artefato atômico soviético). Houve por parte dos soviéticos, a promessa de fornecimento de uma bomba atômica para que os chineses pudessem testá-la e obter dados que abreviariam o desenvolvimento sonhado. No final da década de 1950, Kruschev, que substituíra Stalin, foi a Pequim para renegociar a cooperação sino-soviética e o encerramento do projeto nuclear conjunto — obviamente, a bomba atômica não foi entregue pelos russos. Os chineses implementaram um projeto nuclear espelho, paralelo, em que todos os passos do projeto de cooperação nuclear eram reproduzidos secretamente no oeste do país. Assim, em 1968, os chineses explodiram sua primeira bomba atômica, denominada 596, que foi considerado um símbolo da honra chinesa, dado que esse número lembrava a data do rompimento do acordo de cooperação com os soviéticos (junho de 1956).
Em face do rompimento da cooperação sino-soviética, os chineses estabeleceram as prioridades estratégicas para que, em 100 anos, a China atingisse o patamar de potência dominante. Uma grande ênfase foi atribuída para educação, ciência & tecnologia e pesquisa & desenvolvimento. É oportuno ressaltar que — a par desse ponto de partida estabelecido no final da década de 1950 —, estima-se que a economia chinesa ultrapasse a americana antes de 2030; e, por volta de 2050, a China poderá, como previsto por seus estrategistas, estar ombreando com os americanos nas demais esferas do poder.
Na segunda metade do século XX, os chineses importavam radares de uso militar e civil da União Soviética e depois da Rússia. A partir da década de 1990, eles instalaram centros de pesquisa e de produção de radares. Até 2005, a indústria chinesa produziu cerca de 1000 radares de pequeno, médio e longo alcances. Evidentemente, os radares chineses apresentavam grande semelhança com os radares russos — eles eram cópias destes, obtidas por engenharia reversa. Entretanto, os chineses tinham grande orgulho de transmitir para os visitantes estrangeiros que a indústria de radares e equipamentos eletrônicos similares, localizada em Nanjing, uma das antigas capitais do país, abrigava mais de 4000 engenheiros, dos quais cerca de 1000 tinham curso de mestrado e, destes, mais da metade eram doutores. E o que impressionava os visitantes era o registro de quase 300 patentes de invenção que tornava a indústria de radares muito inovadora — isto é, eles importavam, copiavam e depois agregavam aperfeiçoamentos caracterizadores de elevado padrão de assimilação e domínio tecnológico.
Nos últimos 15 anos, os chineses despenderam ingentes esforços para a pesquisa, desenvolvimento e produção de uma determinada belonave que eles estavam em estado adiantado de pesquisa, desenvolvimento e produção industrial. Entretanto, na tentativa de abreviar o processo, eles tentaram obter tecnologia dos países detentores de produção autônoma! Não tiveram sucesso. No início da primeira década do novo milênio, o governo de país com algumas semelhanças com o Brasil articulou um acordo de cooperação militar com os chineses. Nas conversações com autoridades chinesas, o Ministro da Defesa desse país comprometeu-se em permitir exercícios conjuntos entre as respectivas forças navais, sendo que os chineses incluíram  a presença de fração militar na belonave do país parceiro. É certo que eles incluiriam nessa fração militar engenheiros altamente qualificados para realizar o trabalho de prospecção tecnológica e industrial de dados que eles buscavam para a conclusão de seu processo de produção. Ao retornar a seu país, o ministro foi alertado pelas autoridades navais das inconveniências do mencionado procedimento.  No prosseguimento da cooperação internacional e implementação do acordo, o comandante naval determinou aos negociadores que se deslocaram para a China para os acertos executivos, que não aceitassem a participação de tropa chinesa na belonave de seu país. As negociações sobre esse tópico duraram dias e os chineses repetiram à exaustão a determinação de não excluir a presença chinesa no navio de guerra. Ficou caracterizado um impasse e como argumento final, eles apresentaram documento oficial em que os respectivos ministros haviam se comprometido com essa questão. Não há informações sobre o desenlace desse acordo, mas está bem caracterizada a forma de atuação chinesa.
Essa amostra de fatos históricos, onde prevalece a interação chinesa com potências dominantes e outros países, evidencia inequivocamente a objetividade e dureza dos chineses em negociações internacionais, bem como a consciência de seus elevados interesses e a impossibilidade de renúncia à intransigente defesa e consecução de seus objetivos estratégicos.
De parte do Brasil, constatamos uma equipe governamental que pode, na atualidade, ser caracterizada pela incompetência gerencial cujos emblemas mais evidentes são o baixo desempenho econômico e o naufrágio da gestão da maior empresa brasileira — a Petrobras. Pode ser caracterizada pelos insucessos de política externa, com as perdas inquestionáveis para países como a Bolívia, Argentina e Venezuela. Ademais, as melhores metáforas para essa caracterização são a corrupção desenfreada, liderada pelos auxiliares mais próximos dos presidentes brasileiros nos últimos 12 anos e a ausência de cumprimento de compromissos assumidos de parte da própria Chefe de Governo, em repetidos pronunciamentos públicos, seja no período eleitoral ou no decorrer de seu mandato.

Então, que resultados podem ser esperados em acordos gestados entre os qualificados chineses e os brasileiros petistas da atual gestão governamental, com possibilidade de aporte de recursos na ordem de grandeza de meia centena de bilhões de reais? Que benefícios estratégicos de longo prazo estarão sendo satisfeitos nesses acordos, onde os chineses entram com o poder econômico-financeiro e o poder da experiência no sucesso em empreendimentos internacionais e o Brasil entra com a natural fraqueza de uma economia que se encontra em frangalhos e necessitando dos investimentos numa clara tentativa de salvar o que caminha para o despenhadeiro?

domingo, 17 de maio de 2015

O maior jogador de futebol de todos os tempos

Comecemos por grandes personagens de outras áreas marcadas pela genialidade. Quem foi maior em cada ramo de atividade, Sócrates, Platão ou Aristóteles?  Newton, Galileu ou Einstein? Rembrant , Da Vinci ou Picasso? Cervantes, Dante ou Camões? Rousseau, Unamuno ou Borges? Henry Ford ou Steve Jobs? Churchill ou Roosevelt?
Afinal, Messi é o maior jogador de futebol de todos os tempos? Para uma resposta afirmativa e para começar, ele teria que ser maior que Di Stefano e Maradona. Similarmente, teria que ser maior que Puskas, Garrincha, Cruyf, Platini e Iniesta. Provavelmente é maior que todos eles! Ademais, para ser o maior de todos os tempos, ele teria que marcar mais de 1.300 gols, teria que ser campeão do mundo de clubes mais de duas vezes, teria que ser campeão do mundo por sua seleção nacional mais de três vezes. Terá sucesso nessas empreitadas? O tempo vai esclarecer.
As indagações e comparações sugeridas são razoáveis? São relevantes? Que as pessoas lúcidas, inteligentes, sensatas e decentes tentem responder. É preciso elevada qualificação  e integridade ética e intelectual para que a análise seja adequada, isenta de preconcepções e correta.
Eu, de minha parte, acho que é preferível admirar os gênios da raça. Apenas! Minha homenagem a eles. Minha homenagem ao Messi, maior jogador de futebol da atualidade. Minha homenagem aos cronistas e torcedores espanhóis por serem testemunhas oculares do magnífico, extraordinário e fantástico futebol praticado pelo craque argentino — e por toda a equipe do Barcelona.
Peço desculpas por não me expressar adequadamente no belíssimo idioma de Cervantes.
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El mayor jugador de futbol de todos los tiempos [*]

[Esta matéria foi divulgada no fórum de debates do portal eletrônico do jornal Mundo Deportivo, de Barcelona, em 30/Mai/2015]
Empecemos por grandes personajes cuyas características sean la genialidad. Quien fue mayor en cada ramo de actividad, Sócrates, Platón o Aristóteles? Newton, Galileo o Einstein? Rembrandt, Da Vinci o Picasso? Cervantes, Dante o Camões? Rousseau, Unamuno o Borges? Henry Ford o Steve Jobs? Churchill o Roosevelt?
Por fin, es Messi  el mayor jugador de futbol de todos los tiempos? Para una respuesta afirmativa, para empezar, el tendría que ser mayor que Di Stéfano y Maradona. Similarmente, tendría que ser mayor que Puskas, Garrincha, Cruyf, Platini e Iniesta. Probablemente Messi es mayor que todos ellos! Ademas, para ser el mayor de todos los tiempos, el tendría que marcar mas de 1.300 goles, tendría que ser campeón del mundo de clubes mas de dos veces, tendría que ser campeón del mundo por su selección nacional mas de tres veces. Tendrá éxito en esas propuestas? El tiempo lo aclarará.
Las indagaciones y comparaciones sugeridas son razonables? Son relevantes? Que las personas lúcidas, inteligentes, sensatas y decentes traten de contestar. Es necessário elevada calificación e integridad ética e intelectual para que la análisis sea adecuada, libre de preconcepciones y correcta.
Yo, por mi parte, creo que es preferible admirar los genios de la raza. Apenas! Mi homenage a ellos. Mi homenage a Messi, mayor jugador de futbol de la actualidad. Mi homenage a los hinchas y cronistas españoles por seren testigos oculares del magnífico, extraordinário y fantástico futbol practicado por el as argentino — y por todo el equipo del Barcelona.
Pido desculpas por no expresarme adecuadamente en el bellíssimo idioma de Cervantes.
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[*] Tradução de Isabel, para remessa ao jornal Mundo Deportivo, de Barcelona.

sábado, 16 de maio de 2015

Só a mudança é permanente

Outro dia,  estava de passagem pelo hospital militar HMab e cruzei com o Gurgel, engenheiro militar e amigo de longa data. Perguntei-lhe como estava seu veículo elétrico (ele o adquirira há cerca de quatro anos, para uso cotidiano). Ele respondeu que continuava usando o carro. Adicionalmente, asseverou que finalmente conseguira, mediante fomento da Universidade do Ceará, constituir uma empresa voltada para a produção de veículos elétricos. Comentei que seria desejável que o Exército encomendasse os primeiros dez veículos de sua linha de produção. Não importava por que nem para que. A questão era unicamente a ideia de associação com um empreendimento inovador. Se bem direcionado, as possibilidades midiáticas dariam o retorno requerido — ademais nossa força terrestre imitaria o que faz sua congênere norte-americana, que estimula um sem número de inovações.
Brinquei com o Gurgel: disse-lhe que em menos de uma década, ele estaria gerindo um pequeno império e eu estaria pedindo carona em viagem à Europa ou aos Estados Unidos, em seu jatinho.
Hoje, li no jornal francês Le Monde a notícia de que a empresa Google estava testando seu veículo autônomo (que não utiliza motorista). A matéria contém um vídeo com teste urbano do carro. Foi divulgada a previsão de que por volta do ano 2030, 10% dos veículos em circulação seriam autônomos; e em 2050, o percentual desses veículos nas ruas e estradas se elevaria para 50%.
Essas duas notícias fazem lembrar o que minhas filhas estão estudando na 6a. série do ensino fundamental — filosofia. E vale ressaltar que uma das questões da verificação de aprendizagem do 2o. período escolar delas tratava das características do pensador Heráclito que vivera no século IV, antes de Cristo. O pensamento desse filósofo pode ser condensado na sentença “só a mudança é permanente”.

Enfim, em dez anos, muito ou quase tudo pode mudar. Poderia exagerar e asseverar que em uma década à frente, mais de 50% do que estaremos usando ainda não foi inventado e produzido. O veículo elétrico e o veículo autônomo — invenções atuais requerendo aperfeiçoamentos a inventar — são parte das mudanças que continuam permanentes, como asseverara Heráclito.