quarta-feira, 25 de maio de 2016

Blindagem da Operação Lava Jato


[Mensagem acolhida pelo jornal O Estado de São Paulo e divulgada em seu Fórum de Leitores, versão eletrônica, de 25/05/2016]
         Ao se permitir a gravação articulando a neutralização da Justiça Federal, o sr. Romero Jucá acabou prestando um bom serviço ao Brasil: na verdade, ele blindou a Operação Lava Jato. 
         De um lado, os políticos se sentirão inibidos em suas recorrentes tentativas de barrar o combate à corrupção. De outro, os integrantes do Supremo Tribunal Federal se verão estimulados a intensificar iniciativas fortalecedoras do processo de redução das atividades políticas criminosas. 
         Então, em vez de neutralizar juízes, procuradores e policiais, Romero Jucá neutralizou eventuais empreendedores de ações contrárias aos bons costumes éticos e morais. 
         Não pairam dúvidas de que o sr. Jucá se revelou um antitrapalhão – aquele que desencadeia inexcedível estratégia em favor do adversário. A sociedade brasileira, em especial, as crianças e os velhinhos, agradecem.
[Colaboração: Isabel K. S. R. Souto]

domingo, 8 de maio de 2016

Entrevista para Sabrina Vilela

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A acadêmica de Psicologia Sabrina Chada Vicq Vilela e o esposo Delaorzinho formam um casal magnífico — são nossos compadres, porque padrinhos da nossa filha Laura. Sabrina solicitou-me uma entrevista atinente a minha evolução profissional, como parte de um trabalho didático que ela apresentaria na faculdade. Não sei se o resultado foi satisfatório, mas respondi a seus questionamentos com muita satisfação.

 

 

SV.      O que te motivou a escolher a sua profissão?

ARS.     O fator inicial para minha escolha foi o incentivo de meu pai, na infância, para que eu estudasse e fizesse uma faculdade e garantisse uma vida confortável e digna; e que permitisse uma satisfatória evolução social e cultural. Essa motivação — amparada em uma família modesta, com um pai lavrador e garimpeiro, e depois comerciante — me conduziu a pensar em uma profissão com características produtivas e transformadoras. Dessa maneira, desde o início da adolescência, tornei-me aficionado das lides de engenharia. Por outro lado, a ideia do desafio e da aventura também faziam parte de minhas reflexões. 

Então, a carreira militar na Aeronáutica atendia a duas condicionantes: poderia, em uma primeira fase, tornar-me oficial aviador e vivenciar o dinamismo dessa condição; e subsequentemente poderia cursar o Instituto Tecnológico da Aeronáutica e tornar-me engenheiro. A ideia fulcral em meu pensamento era trabalhar em uma profissão agradável e baseada na possibilidade de transformação da realidade e do ambiente de meus contemporâneos. 

Em 1965, fiz um concurso dificílimo — mais de 5.000 candidatos para 300 vagas — e ingressei no primeiro ano da Escola Preparatória de Cadetes da Aeronáutica.

Entretanto, ao final do ensino médio naquela escola militar, estava com miopia e fui reprovado no exame médico, não podendo pois continuar aspirando à carreira na aviação. Meu desempenho escolar, bem como os resultados de exames físico, médico e psicológico credenciaram-me para, em 1969, ingressar na Academia Militar das Agulhas Negras. Dessa forma, poderia tornar-me oficial do Exército, fazer o curso de paraquedismo — já que não podendo ser piloto, poderia interagir com o avião, saltando de paraquedas —  e depois ingressar no Instituto Militar de Engenharia e materializar o acalentado sonho juvenil. Os sonhos foram concretizados.

SV.      Conte-me um pouco sobre sua trajetória profissional desde a graduação (escolhas, oportunidades, estágios, dificuldades e inserção no mercado de trabalho)

ARS.                   Após a vivência como oficial paraquedista e a subsequente graduação em engenharia elétrica no Instituto Militar de Engenharia, em 1981, fui trabalhar na Comissão Regional de Obras do Exército, em Manaus. Foi um período extraordinário, dado que pude praticar intensamente o que aprendi na graduação — tanto na elaboração de projetos quanto na execução de obras civis e na gestão financeira correlata. Participei da construção, manutenção e reforma de casas, prédios e aquartelamentos em Manaus e Boa Vista; em Marco BV-8 e Cucuí, na fronteira do Brasil com a Venezuela; em Tabatinga, Ipiranga e Japurá, na fronteira com a Colômbia; em Palmeira e Estirão do Equador, na fronteira com o Peru.

No atinente a dificuldades da região amazônica — melhor seria caracterizá-las como desafios — podem ser citadas: longas distâncias, exiguidade de meios de transporte (às vezes, apenas aéreo), ausência de meios de comunicação (telefone, rádio e televisão) e pouca disponibilidade local de alimentos (que eram levados uma vez por mês de avião). 

Após o período amazônico, resolvi cursar, mestrado em Engenharia de Sistemas e Informática, no Instituto Militar de Engenharia. Em 1987, conclui o curso e fui transferido para Brasília. Na capital do planalto central, trabalhei no acompanhamento e controle de obras do Exército. Assim, participei da equipe que realizava a gestão de centenas de obras da Força Terrestre, espalhadas por todos os estados da federação. Ademais, o curso de mestrado possibilitou-me uma experiência inigualável: durante quase 10 anos, ministrei aula em faculdade de processamento de dados, nas seguintes disciplinas: análise e projeto de sistemas, lógica matemática e tópicos avançados de programação. A transmissão de experiência para os mais jovens e de motivação para a atitude de refletir e pensar são fascinantes e gratificantes.

No que concerne aos desafios encontradas no magistério, poderia asseverar que uma parcela dos alunos de escolas particulares pertencem ao universo daqueles que não tiveram possibilidade de cursar boas escolas nos ensinos fundamental e médio. Ademais, a maioria trabalha e, por essa razão, estuda à noite. Fica caracterizada uma distorção tipicamente brasileira. Uma parcela expressiva dos alunos cujas famílias dispõem de recursos financeiros suficientes ingressam nas universidades públicas e gratuitas; e aqueles que não podem pagar ensino de qualidade ingressam nas faculdades privadas.

Em 1999, depois de passar um ano no Rio de Janeiro, no Curso de Política, Estratégia e Alta Administração do Exército, fui nomeado Adido de Defesa, Aeronáutico, Naval e do Exército junto à Embaixada do Brasil no Irã. Em consequência, passei dois anos no Oriente Médio. É forçoso ressaltar que a experiência em uma das mais conflagradas regiões da Terra — em contato com militares e diplomatas europeus, latino-americanos, africanos e asiáticos acreditados em Teerã — ampliou e enriqueceu minha modesta bagagem de conhecimento histórico, cultural, político e estratégico. Ademais, nos períodos livres, foi possível visitar a maioria dos países da Europa Ocidental, bem como China e Rússia. 

Dentre os desafios enfrentados, poderia mencionar que o Irã é uma ditadura religiosa que impõe restrições ao cotidiano de qualquer pessoa do Ocidente e abriga enorme preconceito em relação às mulheres. Nesse sentido, as mulheres iranianas e estrangeiras vestem-se de tal sorte que só podem mostrar, em público, o rosto e as mãos. 

Após a volta ao Brasil, passei dois anos em Brasília e, em 2003, fui designado para chefiar sucessivamente o Campo de Provas da Marambaia, o Centro de Avaliações do Exército e o Centro Tecnológico do Exército, organizações militares do ramo de ciência & tecnologia e pesquisa & desenvolvimento da Força Terrestre, localizadas no Rio de Janeiro. Essa experiência profissional foi valiosa já que, no CTEx, a equipe de profissionais era multidisciplinar, com mais de 150 engenheiros das especialidades de eletrônica, telecomunicações, computação, metalurgia, mecânica, química, aeronáutica e nuclear. Assim, foi possível participar de projeto, pesquisa e produção de algumas dezenas de equipamentos de uso dual, militar e civil. Dentre eles podem ser citados pelo menos cinco que jamais foram pesquisados, projetados e produzidos no hemisfério Sul: VANT militar, simulador para treinamento de piloto de helicópteros, sistema de comando & controle, sistema de monitoramento eletrônico e dispositivo para execução automatizada de tiro de metralhadora para carro de combate.

No que diz respeito aos desafios do trabalho em ciência & tecnologia e pesquisa & desenvolvimento, o que mais impacta — de forma similar ao que ocorre com educação — é a falta de prioridade atribuída pelo governo federal a esse ramo de atividade. Pode-se afirmar que essa é uma característica dos países não desenvolvidos. Então, chega a ser frustrante constatar a dependência do Brasil de conhecimento e bens importados.

SV.      Suas expectativas corresponderam à realidade?

ARS.     A resposta pode ser afirmativa. Nas várias fases profissionais, consegui sempre atuar em atividades que requeriam o que foi ministrado nas instituições acadêmicas. Após a graduação em engenharia, trabalhei em planejamento, projeto e execução de obras de construção civil. Após a conquista do título de mestrado em engenharia de sistemas e informática, atuei no acompanhamento e controle de obras, com foco na informatização de processos; bem como no magistério superior, com disciplinas relacionadas com o currículo de mestrado. Após a pós-graduação em política e estratégia, fui designado para o cargo de Adido Militar, o qual está plenamente inserido no contexto do curso realizado. E, finalmente, no encerramento da carreira, trabalhei no que posso caracterizar como uma síntese e coroamento dos períodos de formação, aperfeiçoamento e vivência profissionais: a gestão e execução de pesquisa & desenvolvimento, com o objetivo de reduzir a enorme dependência científico-tecnológica de nosso país em relação aos centros desenvolvidos estrangeiros.

SV.      Quais os aspectos que mais te desagradaram no seu trabalho? Como lidou com eles?

ARS.     No período em que dei aula em faculdade e quando trabalhei em pesquisa & desenvolvimento, confirmei e consolidei a visão de que, historicamente, no Brasil, jamais se atribuiu prioridade elevada para educação e para ciência & tecnologia. Isso é lamentável, pois em todos os períodos da evolução humana venceram e prevaleceram os povos cujos governantes atribuíram prioridade estratégica para esses dois aspectos fundamentais. 

O que um profissional não integrante das instâncias governamentais decisórias e com responsabilidade na gestão governamental de educação, ciência & tecnologia poderia fazer? As possibilidades eram e são reduzidas, entretanto, se cada cidadão fizesse a sua parte, o conjunto poderia evoluir satisfatoriamente. Assim, na sala de aula ou nos demais ambientes de trabalho, considerei imperioso incentivar, motivar e premiar os seres humanos, conscientizando-lhes sobre a essência dessas questões, apontando-lhes as direções adequadas em cada caso. Restou também ter atitude, coerência e firmeza e, nesse sentido, agir, ousar e desafiar as preconcepções contrárias, derrubar os muros da intolerância e indigência; e construir pontes de entendimento, de solidariedade e compreensão para que cada aluno, cada profissional subordinado, afim ou superior pudesse ser agente da transformação tão necessária em nosso País.

SV.      Atualmente, quais são seus planos profissionais? O que te motiva hoje? Cite pelo menos três aspectos.

ARS.     Depois de quarenta e cinco anos de atividades profissionais, atualmente, encontro-me vivenciando o descanso da aposentadoria. Por essa razão, não tenho planos profissionais. 

Entretanto, um aspecto que me permite a sensação de utilidade é a manifestação em um blog experimental, onde registro um pouco de minhas memórias, mensagens para a família e também opiniões atinentes à atual conjuntura política e social — sendo que, nesse aspecto, não raro, expresso uma boa dose de indignação relacionada com os desatinos que as lideranças políticas diuturnamente têm a desfaçatez de impor à cidadania. 

Ademais, tenho aproveitado o tempo disponível para leitura. Estou lendo mais e melhor. Assim, sinto-me instrumentalizado para interagir com os integrantes da família, especialmente com os que estão na alvorada de sua existência.

E por último e igualmente importante, encontro motivação na possibilidade de retornar para a sala de aula. Não raro, vejo-me pensando e sonhando com a formação de jovens. Afora o fascínio do desafio, há a questão fundamental de manter-me lúcido, pensante e opositor pertinaz da desagregação natural imposta pela condição humana. Para tanto, basta-me transformar esse discurso em ação, em realidade.

 

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sexta-feira, 6 de maio de 2016

A virtude como norma

Considerando a suspensão, neste início de maio de 2016, do senhor Eduardo Cunha do exercício do mandato de Deputado Federal, bem como do cargo de Presidente da Câmara de Deputados, pelo egrégio Supremo Tribunal Federal, um macaco refletindo com seus botões, formulou três magníficas pérolas.
O juiz Sérgio Moro é motivador e líder da Operação Lava-Jato, que envolve, além da Justiça Federal do Paraná, o Ministério Público Federal e a Polícia Federal. Essa Operação tem logrado êxito no desbaratamento da rede de corrupção formada por políticos, empresários e funcionários da Petrobras.  A  recorrente eficácia do doutor Moro forçou uma demonstração de presteza e contundência na atividade dos magistrados supremos. Constata-se que essa inovadora vontade de agir elimina o acinte à cidadania e traz consequências benéficas que ultrapassam a fronteira da previsibilidade.
Tendo em vista que alguns dias antes, houve por aquela colenda Corte, a aprovação do rito do processo de impeachment da senhora Dilma Roussef, em relação ao cargo de presidente da República — o que certamente acarretará a queda dessa venerável senhora —, os magistrados supremos implementaram a lógica do dominó na política brasileira. Qual será a próxima pedra a tombar? O vice-presidente da Câmara, no exercício da Presidência, acusado no âmbito justiça federal por corrupção; o presidente do Senado Federal que já tem nove processos na justiça federal, pela mesma razão? Bem, mas daí resulta um enorme problema: quem restará na cadeia da sucessão presidencial? O Jean Willys, deputado que cuspiu no outro em plenário; o Tiririca, humorista que brincou de candidatar-se ao Parlamento e foi eleito com votação estrondosa; ou o Valdir Maranhão, que no exercício da Presidência da Câmara — afora voltar atrás, com frequência, por conta de decisões absurdas — não consegue presidir qualquer sessão daquela egrégia casa legislativa?
É imperioso recordar o que disse um líder jovem,  conforme relato de um magistrado supremo em seu voto pela suspensão do mandato do senhor Cunha: “eu não quero esse Brasil; eu quero um Brasil novo!”.

Deixando de lado as reflexões babuínas, fica a expectativa e a esperança de que é possível construir esse Brasil novo. É possível sonhar com um Brasil onde prevaleça a decência, a ética e a solidariedade; onde a virtude seja a norma e a vileza seja a exceção, devidamente avaliada e reprimida.