quinta-feira, 21 de abril de 2016

Contradição do poder

[Mensagem acolhida pelo jornal O Estado de São Paulo e divulgada em seu Fórum de Leitores, versão eletrônica, de 21/04/2016]
No artigo “A heroína de ocasião e o farsante de estimação” (“Estadão”, 20/4, A2), o senhor José Nêumanne aponta com lucidez e sólida argumentação as contradições da atual conjuntura nacional, associadas com as tentativas da senhora Dilma Vana Rousseff de se salvar no processo de impeachment.
De passagem, o colunista se coloca contra o regime militar de 1964, o que é absolutamente compreensível, especialmente se considerarmos que militares não são formados para exercer a gestão governamental, não importando se, historicamente, as elites civis tenham sido absolutamente ineptas naquilo que deveriam ser as referências da sociedade.
É paradoxal notar que os militares agiram em oposição aos brasileiros que queriam implantar no Brasil uma ditadura similar aos regimes hediondos citados pelo senhor Nêumanne. Entre os que queriam substituir o regime militar por ditadura hedionda inclui-se a senhora Rousseff, conforme atesta o notável poeta. É também paradoxal ressaltar que os militares ajudaram a varrer do planeta o nazismo.
Entretanto, comparar o regime militar brasileiro ao nazismo de Hitler depõe contra a estatura intelectual do articulista. E falta de coragem intelectual é covardia ética e moral – faculdade essencial de Pol Pot, Hitler, Stalin “et caterva”.
Por último e igualmente importante, no exercício do poder os militares cometeram erros – as consequências dos acertos dependem da isenção do julgamento. Similarmente, no exercício do poder jornalístico, poético e de escritor, o senhor Nêumanne está cometendo erro.
Quem está no poder se considera inatingível e infenso a erro. O poder tem essa contradição.

Assalto ao sítio em Atibaia

[Mensagem acolhida pelo jornal O Estado de São Paulo e divulgada em seu Fórum de Leitores, versão eletrônica, de 09/04/2016]
É verdade ou mentira que cidadãos do Movimento dos Sem Charuto invadiram a fazenda de integrantes do Movimento dos Sem Vergonha?
[Colaboração: Isabel K. S. R. Souto]

terça-feira, 19 de abril de 2016

Brasil surreal

Ao asseverar que “era carta fora do baralho”, a senhora DVR (Dilma Vana Roussef ou, se preferirem, Deveria Velozmente Renunciar) bandeou-se para a oposição e transmitiu sinalização para os integrantes de sua grei a agirem consentaneamente.
É o que assistimos na memorável noite do último domingo, notadamente, por ocasião dos votos dos deputados do PT (Partido da Tigrada, como prefere o Estadão; Partido das Trevas, como preferem alguns; ou Partido dos Traumas, como preferem outros) e do PC do B (partido dos seguidores do comunismo de Stalin que torturou e assassinou 700.000 crianças na Ucrânia nas décadas de 1930 e 1940; e dos que custam a admitir que houve mais efetividade dos comunistas naquela ocasião, do que dos nazistas de Hitler, na tortura e assassinato de 600.000 crianças na Alemanha na década de 1940).
Com intensidade e efusão, os parlamentares das legendas petistas e comunistas proferiram seus votos de forma solidária e coerente com a senha da antiga chefe do executivo e se comportaram como dignos oposicionistas do governo que está se consolidando. De fato, a tigrada honra a faculdade e a tradição de fazer oposição destrutiva que tanto lhes agrada.

É imperioso que cada integrante da equipe da situação assuma atitude de estadista. Assim a meta de vencer a difícil quadra da história desse Brasil surreal restará vitoriosa.

domingo, 3 de abril de 2016

Tempos de resiliência

O neuro-cirurgião Jorge Barudy Labrin escreveu um elucidativo artigo sobre resiliência. Ele cita a seguinte definição da Real Academia Espanhola para esse conceito: a “capacidade de adaptação de um ser vivo diante de um agente perturbador ou estado ou situação adversa”. E em seguida assevera que “o termo tem sua origem na Física”, dado que “resiliência é a capacidade que um material tem de resistir a um impacto e recuperar sua forma original.”
Labrin passa a esclarecer o que guarda nos porões da mente ao asseverar que “conheceu o fenômeno da resiliência na própria carne quando, jovem médico no Chile, foi detido, preso e torturado depois do golpe militar de Pinochet.” Acrescenta “acreditar que, em parte, deve sua sobrevivência mental ao compromisso de apoiar e trabalhar para manter a esperança no grupo de detentos, e ao empenho em atendê-los como médico.”; e também à sua “capacidade de se indignar e se rebelar contra os atos violentos dos militares, que prenderam, torturaram e mataram civis indefesos, amigos e colegas de trabalho.”
Conquanto desenvolva uma excelente cogitação ou tese sobre resiliência — ao preconizar que “os contextos interpessoais resilientes são afetuosos (biologia do amor), facilitam a consciência de ter sido afetado por injustiças; venham elas da natureza (como as catástrofes naturais), da opressão, da violência política, de gênero, dos maus-tratos infantis …” —, ele navega indevidamente pela questão militar ao afirmar que “também os militares se apropriaram do conceito e o corromperam. Quem provoca ou participa das guerras se interessa pelo tema para motivar a força destrutiva de suas tropas e banalizar o impacto de suas ações na população civil e em seus próprios soldados.”
Na questão militar discordei do doutor Labrin. Minha visão desse aspecto atinente ao conceito de resiliência é apresentada a seguir, em mensagem para duas pessoas gradas.
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Enviei o texto do doutor Jorge Barudy Labrin, sobre resiliência, para várias pessoas da família e amigos. Curiosamente, a comadre e a sogra responderam a mensagem. A primeira é mãe substituta da Laura e a outra é mãe duas vezes. Fiquei recompensado.
Em relação ao texto, claro que gostei, aprovei e divulguei, mas não perco o senso crítico. É preciso dar uma olhada nos porões da mente do neuro-psiquiatra chileno.
Por que ele foi preso pelos militares? Alternativa primeira: erro dos militares! Nesse caso, o erro teria que ser corrigido com rigor e severidade máximas. Alternativa segunda: ele era correligionário ou simplesmente apoiava, admirava e ajudava Salvador Allende. Este queria implantar no Chile o comunismo ou algo parecido. Allende queria implantar no Chile o nazi-comunismo, que eu defino pelas 600.000 crianças e 600.000 idosos torturados e assassinados na Alemanha nas décadas de 1930 e 1940 (obra do nazismo de Hiltler); bem como pelas 700.000 crianças e 700.000 idosos torturados e assassinados na Ucrânia no mesmo período (obra do comunismo de Stalin). Lembro que, em realidade, entre aqueles na condição de "mamando e caducando", as vítimas somam 6 milhões na Alemanha e 7 milhões na Ucrânia.

Embora gostando do texto sobre resiliência, enxergo de forma insatisfatória as referências e generalizações sobre os militares; e nesse caso é preciso contextualizar alguns aspectos que fundamentam as assertivas do doutor Labrin.
[1] Em relação ao Chile, o regime de Pinochet aprontou com cerca de 3.000 a 30.000 chilenos (há controvérsia sobre o número de cidadãos sacrificados pela ditadura). Entretanto, Pinochet e seus militares evitaram a comunização chilena — que se concretizada, colocaria próximo de nossas fronteiras algo parecido com a Coréia do Norte ou Cuba. Ademais, por obra e arte de Pinochet, os chilenos atuais herdaram o país mais avançado da América do Sul. Estive lá duas vezes nesta década e entendo que o Chile é o país sul-americano que mais se aproxima dos países desenvolvidos. Por favor, esta é uma opinião simplista e, portanto, incompleta. Neste texto, não há espaço para uma análise mais adequada.
[2] Em relação ao Brasil e minha milionésima-micrométrica condição profissional, entendo que trabalhei pertinazmente no Exército por acreditar que a ação das forças armadas contribuem para a harmonia e o equilíbrio institucional; para a prevalência da democracia; e para o bem estar do ser humano. Vivenciei e estimulei a resiliência naquilo que ela tem de melhor — e se fosse para o tormento da guerra, seria obrigatório explorar, em sua extensão máxima, a faculdade descrita pelo chileno.
[3] Vale lembrar trecho de discurso do presidento americano Barack Obama sobre os militares: “…É graças aos soldados, e não aos sacerdotes, que podemos ter a religião que desejamos. É graças aos soldados, e não aos jornalistas, que temos liberdade de imprensa. É graças aos soldados, e não aos poetas, que podemos falar em público. É graças aos soldados, e não aos professores, que existe liberdade de ensino. É graças aos soldados, e não aos advogados, que existe o direito a um julgamento justo. É graças aos soldados, e não aos políticos, que podemos votar…” (Barack Obama).
[4] Por último e também importante, convém aduzir que é graças aos militares (especialmente, aos milhões sacrificados estupidamente em guerras na Europa)  que o neuro-psiquiatra Jorge Barudy Labrin pode expressar livremente o que pensa, mesmo que fazendo generalizações que lhe diminuem a estatura intelectual e a coragem moral.

Esta mensagem contém uma fragilidade e uma provocação: Maria Helena morava no Chile quando Allende caiu e ascendeu Pinochet. Estou preparado para a tréplica — não apenas da sogra mas também da estudiosa comadre Sabrina que sempre opina com equilíbrio e qualidade.