terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Maconha, glamourização e realidade

[Mensagem divulgada no Fórum de Leitores eletrônico do Estadão em 17/1/2017]
No excelente artigo Maconha, glamourização e realidade (Estadão, 16/1, A2), o sr. Carlos Alberto Di Franco aponta as premissas frágeis da legalização da maconha no Uruguai, revela os danos ao cérebro causados por seu uso e aponta as possíveis consequências negativas para sua liberação no Brasil. Por fim, o sr. Di Franco encerra seu texto com inexcedível alerta para o impacto sobre a juventude e para ações preventivas que as autoridades deveriam adotar.
Gostaria de acrescentar que, de acordo com o testemunho da dra. Frances E. Jensen, em seu livro O cérebro adolescente — e conforme artigo publicado por Rebecca Kuepper et al, no British Medical Journal —, "um estudo realizado na Grã-Bretanha encontrou provas corroborativas da conclusão de que o uso da maconha é um importante fator causal no desenvolvimento da esquizofrenia". É preciso notar que não se trata de a maconha apenas contribuir para o surgimento dessa terrível doença, mas de inserir mudanças no cérebro que causam seu desenvolvimento.
Citando pesquisadores do Instituto Holandês de Saúde Mental e Dependência, que acompanharam 2 mil participantes durante toda a adolescência, a dra. Jensen assevera que "o uso de maconha nos primeiros anos dessa fase pode acelerar a instalação da síndrome psicótica e aumentar o risco da esquizofrenia". Ademais, "mesmo sem fumar maconha, os adolescentes com história familiar da doença (esquizofrenia) têm mais ou menos uma chance em dez de desenvolvê-la. Entretanto, o uso da maconha duplica esse risco, fazendo com que ele passe a ser de uma chance em cinco. Os adolescentes sem história familiar, segundo constataram os pesquisadores, têm uma probabilidade de sete para mil de desenvolver uma doença psicótica, o que duplica quando fumam maconha regularmente". É imperioso ressaltar que há pessoas que não seriam acometidas de esquizofrenia, mas se fizerem uso da maconha podem sofrer os danos dessa doença.
A dra. Jensen ensina, também, que um cientista do Centro de Dependência e Saúde Mental do Canadá "fez um levantamento de mais de 14 mil pessoas e descobriu que os que fumavam maconha quase todos os dias não só tinham duas vezes mais probabilidade de sofrer de psicoses, como eram também duas vezes mais vulneráveis à ansiedade e aos distúrbios do humor, especialmente a depressão".
Poderia seguir adiante nas citações bibliográficas para mencionar os efeitos maléficos da maconha nos transtornos alimentares e de ansiedade e no transtorno bipolar. Mas basta. O que já foi mencionado é suficiente para destacar o acerto e a veracidade das magníficas considerações do sr. Di Franco, especialmente no que tange ao insuspeito conhecimento que ele coloca à disposição das autoridades brasileiras responsáveis pela construção dos estatutos legais que sirvam para prevenir a juventude brasileira desse flagelo terrível.
É oportuno, ainda, aduzir que o cigarro e o álcool são prejudiciais à saúde e são amplamente liberados. Pois bem, milhões os consomem com pouca ou nenhuma limitação legal. É o que queremos para a maconha e outras drogas? Não conseguimos combater o tráfico de drogas, então liberamos o seu uso? Há algo parecido no setor educacional: o Estado não consegue oferecer educação com qualidade, então libera cotas a torto e a direito. Há algo similar na segurança pública: o Estado não consegue combater o tráfico ilícito de armas (origem das mais utilizadas pela criminalidade), então proíbe o seu porte pelos cidadãos de bem. Em realidade, as decisões citadas poderiam até ser fundamentadas na necessidade, na lógica e na razão e poderiam ser convenientes e necessárias; mas não para solucionar a proverbial e eterna (até quando?) desqualificação gerencial de nossos governantes.

Obviamente que a liberalização do uso da maconha impactaria com contundência os adolescentes, aqueles cujo cérebro ainda está em desenvolvimento e consolidação — impactaria sobretudo os menos favorecidos, destituídos de recursos para amparo e possível recuperação — e constituir-se-ia, pois, em enorme desserviço à construção de uma sociedade fraterna, solidária e justa. Que haja comprometimento, capacidade e coragem no seio dos representantes da cidadania.

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