sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

(Des)governança do Brasil

Em relação à matéria “Multidão e políticos dão adeus a Marisa” (Estadão, de 5 de fevereiro), há ponderações que não podem ser ignoradas. A morte da senhora Marisa Letícia, esposa do ex-presidente Lula da Silva, provoca reflexão e lembra o poeta britânico John Donne que, de forma emblemática — e em tradução livre e descompromissada —, afirmara que “quando alguém morre, um pouco de cada um vai junto, ... e assim os sinos dobram por todos”. De qualquer sorte, de um lado, há o lamento resultante do trauma essencial da existência, do deixar de ser ou do não ser; de outro, há o alívio das consequências da natural degeneração que é imposta aos seres humanos. Então, a generosidade oferece o sentimento que deve prevalecer neste momento e que pode ser interpretado por comiseração, piedade e conformismo.
Os abraços solidários de notáveis autoridades ao enlutado ex-presidente traz a lembrança de que a senhora que se foi nem sempre pôde representar o Brasil, especialmente em ocasiões formais no exterior; e diante das evidências de que o mundo que a cercou em vida foi permeado de dúvidas quanto à lisura da gestão de bens públicos, conforme atestam os procedimentos judiciais que atribuíram ao ex-presidente a condição de réu. Então, o realismo pode traduzir a essência das imagens divulgadas e que podem ser associadas com hipocrisia e desonestidade.

Que a vitimização midiática não crie condições para que se atribua inocência ao senhor Lula da Silva, que tantos males causou a tantos brasileiros durante um exíguo tempo histórico; e, por via de consequência, pavimente o seu retorno à (des)governança do Brasil.

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